Eu nunca vou entender por que a Carrie quis o Aidan de volta (nenhuma das vezes). Só consigo pensar em respostas egoístas - já que considero o egoísmo uma das principais características de Carrie. Não me entendam mal, eu me reconheço nela em muitas e tantas outras coisas, mas não nessa.
Pois bem, o episódio começa com ela e Aidan transando quando a secretária eletrônica atende a ligação, adivinhem de quem? No meio do sexo, em alto e bom som, aquele que havia sido o pivô do término deles: o sempre inconveniente Sr. Big.
E lá vai ela pra terapia. Quer dizer, pro brunch com as amigas.
Mais espantoso que receber a ligação do Big no meio da transa foi o Aidan continuar a transa como se nada tivesse acontecido. Carrie, obviamente, acha que precisa conversar sobre tudo isso e cada uma tem uma opinião diferente sobre esse tópico. Mas a bomba fica com Charlotte, que anuncia que está desistindo da carreira por sugestão do banana do Trey.
Todas questionam se aquela era uma decisão sensata, afinal, Charlotte sempre foi muito apaixonada pelo seu trabalho e não tinha cabimento ela se tornar uma daquelas mulheres que abrem mão da vida pra viver em função do marido.
Charlotte garantiu que não era o caso dela, que ela queria se dedicar à reforma de seu apartamento, à sua futura gravidez, queria aprender cerâmica - aí as amigas torcem o nariz - e, pra disfarçar o julgamento, diz que também pretende trabalhar arrecadando fundos para o tratamento de HIV no hospital do banana.
Ali estava a causa nobre que justificaria parar de trabalhar.
Carrie está, a todo instante, puxando o saco do namorado. Pra tudo e a toda hora faz questão de deixar claro o quão incrível ele é e o quanto ela está diferente e vai fazer de tudo pra dar a ele o que merece. Já ele, seco, frio e distante. Quase que indiferente.
Charlotte liga pra Miranda pra reclamar que não gostou do julgamento da amiga. Justifica dizendo que o feminismo também é sobre as mulheres poderem tomarem suas decisões: se querem ser donas de casa, se querem trabalhar e etc. Miranda, que está se arrumando pra sair pro trabalho, diz que isso não é problema dela e que se Charlotte acha que há algo de errado na decisão, deve discutir com o marido, já que a sugestão veio dele.
No meio da briga, Miranda tem um forte torcicolo e liga pra Carrie ir socorrê-la. Carrie, muito ocupada, aceita que Aidan vá ajudar Miranda em seu lugar. E ele vai. Todo fofo e cavalheiro.
Carrie agradece o namorado o convidando pra jantar naquela noite, mas ele diz que teria uma noite com os amigos no bar. Ela, é claro, se convida. E ele diz que ela pode ir se quiser, mas que tanto faz. Afinal, ele tá bancando o indiferente.
E é claro que ela vai. Só que quando ela aparece, não há nenhum outro rapaz no bar. Aidan está brincando com a belíssima e oferecidíssima garçonete. Ele nem sequer apresenta Carrie à ela. Nesse episódio, Aidan está insuportável (exceto pela parte que ele ajuda Miranda).
Carrie foi até que simpática e, elegantemente, deixou Aidan à vontade pra curtir a noite. E diz pra ele dar uma passada na casa dela mais tarde. Só que ele não apareceria.
Triste, Carrie decide procurar Miranda pra chorar as pitangas. Pela primeira vez (que me lembre), Miranda come o toco da amiga. Ela não havia ido visitá-la pra saber como ela estava, afinal, Miranda tinha tido um torcicolo, ido parar no hospital, estava usando um colar cervical e Carrie só queria falar do Aidan.
Qual o nome disso mesmo? Ah, egoísmo.
Carrie acha que Aidan a está castigando, pois ele não consegue esquecer que foi traído. E que ela precisava que ele a perdoasse de verdade pra que eles pudessem seguir em frente, e que talvez fosse mais fácil se ele a traísse também.
E Miranda explica que não é assim que a vida - nem as pessoas - funcionam. Não era do feitio de Aidan, um cara tão legal, pagar na mesma moeda. Ele haveria de esquecer e certamente não iria traí-la.
Carrie não se convence, mas continua agindo como se não fosse ela. De novo, tentando se fazer caber naquele espaço que Aidan havia concedido à ela. E isso me fez pensar sobre limites, que falei aqui em alguma newsletter passada.
Tanto Aidan quanto Carrie precisavam estabelecer novos limites naquela nova relação. Eles não eram as mesmas pessoas de antes, Aidan acumulava um coração machucado e Carrie carregava muita culpa. Mas a tensão do fantasma da traição pairava sobre eles e não abria espaço pra diálogo.
Uma amiga querida deu um novo olhar pra essa questão dos limites numa de suas newsletters (maravilhosa como todas, diga-se de passagem). Eu havia caracterizado o limite como um convite que fazemos ao outro e ela viu tudo isso como uma ponte.
Uma ponte que estendemos ao outro, onde podemos caminhar até um ponto comum ou atravessá-la ou, na pior das hipóteses, virarmos as costas e seguirmos por outros caminhos, cada um pra um lado. E tudo bem.
Pontes são sempre melhores que muros.
Carrie decide procurar Samantha pra discutir de novo o assunto Aidan. Samantha conta do cara com quem está saindo que reclamou da depilação dela. E eu trouxe isso aqui porque é de cair o c* da bunda a audácia desses homens bem meia boca, que mal se cuidam quererem fazer alguma crítica à uma mulher belérrima como Samantha. Ainda que a depilação dela tivesse algum problema, sabe?
É aquela premissa de sempre: homens opinando sobre como são os corpos de suas mulheres. Com que direito? Com que moral? Lembrei de uma vez que ouvi que não devia usar certa roupa porque não me favorecia, já que eu estava acima do peso. Eu estava mesmo acima do peso. Mas essa frase veio de alguém que estava terrivelmente fora do peso também há muito mais tempo do que eu. E aquilo me atravessou muito errado porque eu nunca tive coragem de opinar sobre seu corpo em nenhum momento porque nunca me achei no direito. Quem foi que concedeu esse direito a eles?
Homens, sabem, comecem por vocês e melhorem (em todos os sentidos)!
Voltando ao drama do episódio, Carrie estava lá reclamando de novo blá blá blá, passeando com o cachorro do Aidan que, aquela altura, começou com uma diarreia terrível, quando Samantha fez a observação mais precisa: essa não é você e você não tem que ser outra pessoa pra agradar o Aidan, não importa o que você tenha feito.
Carrie, então, decide devolver o cachorro ao dono e ao chegar no bar o flagra com a garçonete gostosa de novo, todo sorridente. Aí, ao invés de conversar como alguém normal, ela explode e diz que talvez ele devesse comer a garçonete pra assim eles ficarem quites.
É, às vezes o limite vem dessa forma: com uma explosão intempestiva.
Finalmente eles resolvem conversar e Aidan impõe que Carrie corte relações com Big. E ela diz que não pode, pois ele faz parte da vida dela (mas eu não vou comentar sobre isso aqui, não agora).
Carrie diz que o limite para aquela relação dar certo é ele a perdoar de verdade, aceitando os fatos como são. Ela diz que sente muito por tê-lo magoado, mas que aquilo não vai acontecer de novo, mesmo mantendo uma amizade com Big. Mas ele precisa esquecer e perdoar.
Bom, eu acho que perdoar é mais fácil do que esquecer. E não significa que não esquecendo não seja possível perdoar. Eu acho que o perdão é uma das coisas mais poderosas que existem, desde que realmente seja de verdade. Não dá pra perdoar da boca pra fora porque isso não vai levar ninguém a lugar algum.
É perda de tempo, de energia.
Perdoar é importante pra todos os envolvidos, ele alivia e dá uma nova chance de fazer as coisas diferentes. E eu acho tão importante quanto não esquecer. Mas quando digo não esquecer, não quero dizer pra ficar pensando naquilo a toda hora, pra jogar na cara, pra trazer à tona a torto e a direito. Isso não é perdão, isso é tortura.
A gente não pode esquecer justamente pra que a gente não repita o mesmo erro porque já sabe onde aquilo vai dar, as dores que pode causar, as consequências. A gente não pode esquecer da nobreza de quem nos perdoou e de que o perdão é como um joia rara e frágil: não dá pra quebrar muitas vezes porque realmente estraga.
Se for pra perdoar sem intenção, melhor desistir e cada um tomar seu rumo. E é claro que também dá pra perdoar sem precisar insistir na relação. O perdão, assim como a verdade, liberta.
E agora voltemos ao drama Charlotte x Miranda só pra finalizar essa newsletter. Charlotte contrata uma novata pra assumir seu lugar na galeria e se dá conta de que aquela escolha, de se dedicar ao casamento, tem todo o seu valor. Em todo caso, ela teria aquela história de trabalhar no hospital do banana pra [se] enganar caso precisasse provar algo pras amigas.
E Miranda decide prolongar seu afastamento do trabalho por mais uns dias, afinal estava curtindo o ócio de não fazer nada e derreter em frente à televisão, sem compromisso e agenda. Mas ela jamais admitiria aquilo até pra provar que Charlotte estava errada ao abandonar a carreira pra ficar em casa.
Mas é aquilo né, ficar em casa vez ou outra tem um gosto especial quando a gente pode contar com o salário caindo na conta todo mês. Não sei como é ficar em casa por escolha pra ser sustentada por outro alguém (seja um companheiro, um pai, uma mãe ou sei lá mais quem). Só que é como eu escrevi ali (e Charlotte afirmou): escolha. Desde que seja minha e só minha, tá tudo certo.
Sempre achei que o verdadeiro problema da série era a própria Carrie. Vi que ela causava os proprios problemas, inclusive, voltando pro Aidan.
Gostei como respondeu a questao no post! Acho que é valido considerar que vamos sempre lembrar do que nos fez mal, mas isso nao significa que nao possamos perdoar.
amiga, eu amo o conceito de "perdoar não é esquecer". como você disse, o perdão nos liberta. mas lembrar do que houve evita que a gente cometa os mesmos erros novamente - e até possa escolher novos caminhos, com determinada pessoa em nossa vida ou não. e amei estar citada aqui! uma honra <3 obrigada por sempre me inspirar